Nova frescura, caráter e visão de futuro
Nos últimos anos, um movimento silencioso começou a ganhar força: os vinhos brancos em Colchagua deixaram de ser exceção para se tornarem um novo padrão de qualidade, frescor e originalidade. Durante muitos anos, falar do Vale de Colchagua era falar de tintos robustos e expressivos. Carménère, Cabernet Sauvignon, Syrah… todos com uma assinatura própria, marcada pelo sol e pela maturação intensa.
Hoje, enólogos e projetos autorais apostam em brancos com identidade definida, elaborados com precisão e expressão de terroir. O que mudou? O que torna esses vinhos especiais? E como se projetam para o futuro? Para responder a essas perguntas, conversamos com duas figuras-chave do vale: Carolina Blanco, enóloga e fundadora da Carolina Blanco Wines, e Ana Salomó, criadora do projeto Sauvignon Punku Microterroir.
Colchagua: terra de vinhos brancos com identidade
Embora Colchagua seja majoritariamente quente e seco, suas zonas costeiras apresentam condições muito diferentes. Regiões como Lolol, Paredones, Pumanque e Marchigüe recebem a influência direta do Oceano Pacífico, com brisas frias que refrescam as noites e permitem uma maturação lenta e equilibrada.
“A combinação de fatores climáticos, solos diversos e castas bem adaptadas tornou Colchagua uma região destacada na produção de vinhos brancos de qualidade”, explica Carolina Blanco. A amplitude térmica entre o dia e a noite, somada às características dos solos — granito, argila e setores com influência vulcânica — permite que as uvas brancas desenvolvam aromas definidos e mantenham uma acidez vibrante.

Microterroir, clones e precisão: a aposta de Ana Salomó
Um dos projetos que melhor representa essa nova visão é o de Ana Salomó. No seu Sauvignon Punku Microterroir, ela trabalha com uma obsessão por detalhes que revela o verdadeiro potencial do terroir costeiro de Colchagua.
Ana não apenas escolhe parcelas específicas — com exposição matinal e encostas próximas ao mar — como também aprofunda na seleção clonal, uma decisão técnica pouco conhecida fora do mundo do vinho.
“O clone 107 expressa notas minerais, o clone 1 tem caráter herbáceo e o clone 242 revela maracujá. Essa diversidade permite brincar com o estilo e o perfil final do vinho, de acordo com o objetivo de cada microvinificação.”
O nível de precisão é tão alto que até a data da colheita é ajustada ao perfil desejado: precoce para vinhos cítricos e ácidos, intermediária para equilíbrio e corpo, e tardia para frutas tropicais e maior complexidade. Assim, cada garrafa reflete não apenas um terroir específico, mas uma decisão técnica orientada a redefinir os vinhos brancos em Colchagua.

Como são elaborados os vinhos brancos de Colchagua: inox, barrica e mais
A diversidade estilística dos vinhos brancos em Colchagua também está ligada às decisões enológicas. Segundo Carolina Blanco, quando se busca destacar os aromas primários (frutados, herbáceos, florais), a fermentação ocorre em tanques de aço inox com controle de temperatura. É o caminho ideal para vinhos frescos e diretos.
Se o objetivo é complexidade, textura e longevidade, a fermentação em barricas — e a posterior maturação — traz untuosidade, notas de baunilha, tostado e especiarias. Essa técnica é comum em muitos Chardonnay do vale.
Também se destacam as ânforas de cerâmica: sem interferência aromática como a da madeira, mas com micro-oxigenação que confere textura aveludada e mineralidade única.
Técnicas que fazem a diferença: maceração pelicular e sur lie
Duas técnicas avançadas estão moldando o estilo moderno dos vinhos brancos em Colchagua: a maceração pelicular e o envelhecimento sobre as lias.
A maceração pelicular — contato do mosto com as cascas a baixa temperatura — melhora a estrutura e a complexidade aromática, ideal para uvas como o Sauvignon Blanc.
Quanto às lias, os sedimentos das leveduras mortas são fundamentais. O contato prolongado com o vinho permite a liberação de compostos que melhoram textura, cremosidade e volume em boca. Como explica Carolina Blanco:
“O resultado é um aumento da complexidade aromática e uma sensação mais redonda e untuosa no paladar.”
Ambas técnicas somam-se ao vocabulário técnico que hoje define a vinificação dos melhores vinhos brancos em Colchagua.
Mudança climática: um desafio que já se faz sentir
A mudança climática também está transformando o perfil dos vinhos brancos em Colchagua. O aumento das temperaturas reduz a acidez natural e acelera a maturação, comprometendo o equilíbrio das castas brancas.
Além disso, fenômenos como geadas tardias, floradas irregulares e secas prolongadas exigem um novo manejo agronômico, com podas racionais, controle da vegetação e estratégias para proteger os cachos do sol.
“O manejo verde deve focar em manter uma vegetação pouco densa, que favoreça a ventilação e proteja a uva da exposição direta”, conclui Carolina.
Harmonizações, preços e experiências
A versatilidade dos vinhos brancos em Colchagua também se reflete à mesa. Um Sauvignon Blanc mineral e cítrico combina perfeitamente com ceviches, ostras ou mariscos gratinados. Um Chardonnay com passagem por barrica harmoniza com pratos mais gordurosos como salmão, pastel de siri ou frango ao molho branco.
Quanto aos preços, há opções desde 9 USD até blends complexos em barrica por 30 USD — sempre com forte identidade e precisão.
Além disso, o enoturismo em Colchagua inclui degustações focadas em brancos: vinícolas como Montes, Lapostolle, Casa Silva e Viu Manent oferecem experiências onde frutos do mar e vinho se encontram à beira da costa.
Uma nova narrativa para os vinhos brancos em Colchagua
Os vinhos brancos em Colchagua deixaram de ser coadjuvantes para tornarem-se protagonistas. Graças ao trabalho técnico e criativo de enólogas como Carolina Blanco e Ana Salomó, o vale se posiciona como um novo polo de vinhos brancos frescos, elegantes e complexos.
Cada decisão técnica — desde o clone até a colheita — constrói uma história na taça. Uma história de identidade, precisão e visão de futuro.